Começou a usar WordPress há oito anos e não mais quis outra coisa. Zé Fontainhas viu crescer o WordPress, a comunidade portuguesa e lidera o grupo Poliglotas, responsável pela internacionalização e localização do sistema.
Nesta entrevista ficamos a conhecer as suas ferramentas e métodos de trabalho. E assimilamos a recomendação de que um dos objectivos para quem está a começar passa por participar em eventos e debates, como os WordCamps.
Quando estás a desenvolver um projecto WordPress quais são as tuas ferramentas principais, em termos de aplicações, serviços?
Nem todos os projectos são iguais, mas há pelo menos três constantes:
- MAMP Pro — para instalar e gerir o stack Apache/MySql/PHP,
- WP CLI — que me permite gerir tudo de WordPress a partir da linha de comandos,
- Sublime Text — para editar código-fonte. Neste último caso uso ainda umas extensões que ajudam no caso específico do WordPress, como por exemplo o WordPress Package, que faz auto-complete das funções internas de WP, com todos os parâmetros. Há mais informação aqui.
De resto, tento sempre que o projecto esteja a ser desenvolvido não só com controlo de versões (os mais normais são Git e Subversion), mas também, e sobretudo com um sistema de gestão de issues. Isto pode ser na própria plataforma do GitHub ou do BitBucket, ou ainda um sistema externo.
Finalmente tento que a comunicação com o cliente nunca seja feita por email, telefone ou Skype, que são muito difíceis de organizar. Normalmente uso uma instalação P2 por projecto, mas tenho andado a experimentar com Slack, que me agrada bastante.
Podemos conhecer o teu processo de trabalho, o teu ‘workfow’, ou os métodos habituais?
Imagino que seja semelhante ao de muitos outros developers: depois de preparar o servidor local com MAMP, instalar e configurar o WordPress com WP-CLI e inicializar o repositório local, preparo (às vezes tenho que pedir que preparem) os servidores e repositórios remotos de staging e produção.
Todos os commits de código local são normalmente automaticamente sincronizados com o ambiente de staging, para que o cliente possa testar, e uma vez aprovados, passam para produção. É claro que podem existir pequenas variações.
Neste momento estou a fazer as passagens local → staging → produção com dploy.io (que é um serviço online) ou com DPLOY (que é um utilitário de linha de comandos), mas não estou ainda totalmente satisfeito.
Experimentas novas aplicações e serviços com regularidade ou permaneces fiel às tuas preferidas?
Não diria “com regularidade”. Tenho estado bastante ocupado com projectos relativamente grandes e que envolvem equipas inteiras, o que torna as experiências um risco. Mas sim, vou experimentando o que me mostram ou que leio. Aliás, todas as ferramentas listadas acima, foram-me, sem excepção, mostradas por alguém, normalmente face a face, que é como se entende melhor.
Também não acho que seja “fiel”, no sentido de “isto é melhor porque é o que eu uso”. Estou aberto a novas soluções, desde que haja tempo para explorar o seu potencial.
Trabalhas apenas com WordPress ou utilizas outros sistemas de gestão de conteúdos?
A não ser em projectos em que o WordPress tem que falar com outros CMS, não. Comecei há oito anos com o WordPress e nunca mais senti necessidade de usar outra coisa. É claro que é uma pescadinha de rabo na boca :), também não iria fazer projectos que não pudessem ser feitos com WordPress. Acho eu…
Uma das tuas mais conhecidas áreas de intervenção no WordPress passa pelos Poliglotas, a equipa de tradução e localização. Como se consegue gerir um grande grupo de contribuidores, de muitas línguas (e com algumas variantes)?
A minha presença nos Polyglots é tão antiga que presenciou todas as mutações do grupo, desde não existir até ser o que é agora, um componente central do WordPress (veja-se o foco da próxima versão 4.0, quase exclusivamente dedicado à “internacionalização”).
A gestão dos grupos em si, não tem nada de muito novo por serem de muitas línguas: a minha missão é garantir que estão todos contentes com as ferramentas que têm à disposição e que o diálogo se processa de uma maneira cortês e amável. Cabe-me desfazer nós e conflitos, tal como a qualquer lead de outro grupo.
O que difere é apenas a própria natureza do grupo, por ser tão diverso em línguas e culturas. Os tradutores são normalmente contribuidores muito empenhados e com uma consciência muito apurada do impacto cultural do que estão a fazer: é preciso muita paciência e uma sensibilidade cultural muito ampla para garantir que falam de maneira produtiva uns com os outros.
Bem vistas as coisas, a resposta à tua pergunta é a de sempre: graça.
Tens estado, ao longo dos anos, envolvido de forma muito activa com a comunidade. Achas que a ‘Comunidade WordPress’ está cada vez mais profissionalizada? Se sim, isso pode trazer dificuldades aos novos utilizadores?
Depois de muitos anos em que a “Comunidade” se resumia à minha pessoa, estou espantadíssimo com a evolução tremenda do número de pessoas, não só apenas interessadas, mas também envolvidas com empenho no seu crescimento. Não consigo explicar o prazer que é perceber que não consigo já seguir de perto tudo o que se passa, e ainda bem.
Poderia achar-se que este contributo de conhecimento esteja a elevar a fasquia para níveis em que um “mero” (com muitas aspas) utilizador se sinta perdido.
Não sou dessa opinião: este crescimento é bom para os developers e designers, claro, pela quantidade de informação trocada e pelo potencial de colaboração (o que já está a acontecer), mas é também bom para clientes e utilizadores finais. A quantidade de pontos onde podem esclarecer dúvidas e pedir segundas opiniões aumentou exponencialmente, e assim aumenta também a segurança que têm ao optar pelo WordPress.
O único perigo seria a “Comunidade” fechar-se numa redoma isolada, uma espécie de museu de “gurus”, mas não estou a ver que isso esteja a acontecer. Podemos trabalhar um pouco mais na divulgação mais conceptual e de nível mais elementar, mas esses são os ajustes normais de um grupo destes que cresceu, não esqueçamos nunca, organicamente, sem chefes, sub-directores e secretários de repartição.
Quais achas que devem ser os próximos passos do WordPress como CMS, aquilo que gostarias que tivesse e ainda não tem?
Não sei se tenho algum desejo para o core, que seja tão urgente que tenha que ser posto à frente do road map normal de desenvolvimento. A evolução do código tem sido constante, robusta e atenta.
Se calhar os próximos passos não são no código per se. Se calhar aquilo em que é preciso investir são precisamente os ajustes de que falava antes: na construção mundial de uma comunidade e sub-comunidades verdadeiramente abertas, transparentes e eficientes, na investigação de nichos que ainda não receberam a atenção devida, tais como os da acessibilidade, internacionalização (pelo menos até há pouco tempo), documentação, formação e afins.
Alguma sugestão a quem está agora a começar a trabalhar com WordPress?
Só uma: a parte mais importante, a milhas de qualquer outra coisa, é o debate presencial. É crucial ir a tantos encontros e sobretudo a tantos WordCamps quantos se puder. Qualquer participante te dirá, quase sem excepção, que a sua percepção e competência com o WordPress aumentou para níveis estratosféricos depois de um evento desses.
Dado o tipo de comunidade que somos, não só é qualquer pessoa, por muito reconhecida que seja, imediatamente acessível, como também muitos estão exactamente com os mesmos problemas, ou têm exactamente as mesmas ideias que nós.
Essa troca é fundamental.
Perfil em The Loop é uma rubrica do WP-Portugal. Procuramos conhecer, de forma breve e descomplexada, detalhes e opiniões de pessoas que trabalham com WordPress. As entrevistas tanto podem ser em texto, como em vídeo. É como nos apetecer. A nós e ao entrevistado.
Que bom ler informacao acerca do WordPress em portugues de Portugal! (sorry, pela pontuacao mas estou num teclado Alemao)
Sim também gostei bastante, parabéns!
Obrigado por esta entrevista, rica em informação para quem está a começar. Parabéns e obrigado pelas dicas 🙂 Quando é o próximo WordCamp? Quero comprar bilhete :p
Contamos ter novidades sobre um novo WordCamp em Portugal em breve.
Obrigado.