Facto: O WordPress deixou, há muito tempo, de ser uma plataforma de blogs. O “há muito tempo” deve aqui ser entendido no TMI (Tempo Média da Internet). Afinal o WordPress leva 11 anos e uns picos de existência.
O que está a ganhar escala nos sempre prolixos debates online sobre este sistema de gestão de conteúdos (CMS) é o seu futuro. O que deve ser, que caminhos deve trilhar, para onde deve ir. Será, porventura, um debate sem fim, semelhante às dúvidas existenciais e filosóficas do “quem sou, porque estou aqui, para onde vou”. Já se percebe que esta é uma discussão sem prazo, com conclusões à medida de cada um ou mesmo sem conclusões, porque o debate continua. E depois desse virá outro, apenas com ligeiras variantes.
Outro facto: O WordPress é o CMS que move, em números de 2013, cerca de 22 por cento da web. Dito de outra forma: é o sistema de gestão de conteúdos que suporta 22 por cento de todos os sites existentes dos quais se conhece o CMS.
Será este o sistema de gestão de conteúdos adequado para todos os sites? Claro que não. E ainda bem. Todos os CMS têm a ganhar com a existência de alternativas e com o seu desenvolvimento.
Será o WordPress adequado para um órgão de comunicação social de média ou grande dimensão?
O Observador
Surge esta questão a propósito do primeiro mês de vida do Observador. Este jornal online rola sob WordPress e, ao que tudo indica, sem grandes engasgos. Pelo menos que sejam visíveis do lado dos visitantes, papel que desempenhei todos os dias ao longo deste mês. Queria ver como corria. É claro que ainda é cedo para uma análise detalhada mas costuma ser no início que se encontram as areias na engrenagem. Dei por uma ou outra, coisas menores.
Na altura do lançamento, a escolha do WordPress foi alvo de um debate acesso num post do Facebook do Paulo Querido (a 19 de Maio)(1). Trocaram-se argumentos sobre vantagens e desvantagens do uso do WordPress e se não teria sido melhor desenvolver um CMS de raiz.
O WordPress é utilizado por alguns dos maiores sites de informação de tecnologia do mundo, como o TechCrunch ou o Mashable, que em ritmo de publicação pouco ficam a dever aos jornais nacionais e os deixam KO em audiência global. A Time Magazine, que dispensa apresentações, utiliza, desde Março, o serviço VIP do WordPress.com.
E o NYT
É sabido que os blogs de muitos jornais do mundo usam WordPress e, para exemplo, basta o gigante New York Times. Em Janeiro, Scott Taylor, que lidera esta área tecnológica no NYT apresentava ao mundo as ambiciosas alterações introduzidas na rede de blogs, que constituia uma instalação multisite de mais de 200 blogs.
O NYT, enquanto ecosistema, integra muitas outras tecnologias, incluindo a Scoop, o CMS principal do jornal, desenvolvido de raiz em java.
Criado em 2008, este é o sistema de gestão de conteúdos da versão digital do NYT e que está a chegar à versão em papel. Num artigo publicado esta semana, Luke Vnenchak recorda que a ideia original, há seis anos atrás, era criar uma espécie de linha de montagem: os artigos eram escritos no sistema de impressão do Microsoft Word, o CCI, e enviados para o Scoop, onde um produtor web acrescentaria multimédia, etiquetas e o publicaria no site depois da luz verde dos editores.
Entretanto, o sistema mudou e os jornalistas começaram a escrever directamente no Scoop (em concreto no seu próprio editor de texto, o ICE, que é open source) e a publicar de imediato após a revisão do editor. Isto quando a postura do jornal mudou, colocando o digital em primeiro lugar. O projecto está em curso. Em 2015 o Scoop será o principal CMS de todo o NYT, seja digital seja impresso.
Todos os dias o Scoop ‘publica’ 700 artigos, 600 imagens, 14 slideshows e 50 vídeos.
O WordPress daria conta do recado? Da vertente web talvez, da transposição para o papel, não. E o papel ainda é importante? Para os jornais tradicionais, aqueles que nasceram no pré-internet, é ainda fundamental. E embora o futuro seja sem papel, este só vai desaparecer quando podermos ter um dispositivo electrónico actualizável, dobrável, resistente à água e suficientemente barato para o deixarmos no banco do comboio. Lembram-se do ‘jornal’ do filme Relatório Minoritário?
Ah, logo no arranque do seu artigo, Vnenchak sublinha a importância dos CMS naquilo que é actualmente publicado. Aponta o caso de Ezra Klein que disse ao The New York Times que decidiu deixar o The Washington Post pela Vox Media (o grupo do The Verge) por causa do seu CMS. Enquanto isso a Google está a desenvover um… (adivinharam) CMS para o sector da indústria de notícias.
Porque é que tudo isto é relevante para o futuro do WordPress? Porque a comunicação social marca tendências e tem a mania de preservar as suas raízes. A televisão não matou a rádio. A internet não matou a televisão. E ainda nada matou os jornais. Nem o Facebook. O que têm em comum todos eles? A existência de um sistema de gestão de conteúdos, seja ele qual for.
(1) O post actual em causa não está na sua forma original, tendo sido eliminado o debate em redor do CMS. O link foi excluído.