Entrevista a José Marques: “Apaixonei-me pelo WordPress devido à sua simplicidade e expansibilidade”

José Marques começou a trabalhar na Automattic há uns meses. Ainda está a apanhar o jeito ao estilo e ritmo de trabalho de uma empresa famosa pela deslocalização da sua força de trabalho. É um design wrangler. Não sabe o que é? Daqui a pouco explicamos. Basta seguir esta conversa sobre os seus métodos de trabalho e as suas ideias enquanto designer.

Quando estás a desenvolver um projecto WordPress quais são as tuas ferramentas principais, em termos de aplicações, serviços?

Utilizo MAMP como servidor local devido à sua simplicidade. Como editor de HTML/CSS/Javascript utilizo o Sublime Text com algumas extensões de ‘sintax highlight’ e ‘autocomplete’. Para transferência de ficheiros entre ambientes utilizo o Transmission ou Unison. Para controlo de versões utilizo o Versions e o Github, dependendo do projecto. Tenho todos os projectos dentro do Dropbox para que possa ter acesso em qualquer lugar e faço backups diários utilizando o Amazon Glacier.

Podemos conhecer o teu processo de trabalho, o teu ‘workfow’, ou os métodos habituais?

Dependendo do nível de confiança do desafio proposto, por vezes procuro soluções que já existem para perceber como alguém solucionou o problema e analiso a solução para perceber se quero seguir o mesmo rumo.
Para começar a formular ideias nada melhor que o papel e caneta. Permite-me rapidamente visualizar os conceitos e ter uma ideia se o conceito vai funcionar. Vou fazendo várias versões até chegar a um nível de detalhe que me satisfaça. Se for um projecto grande adiciono os desenhos a uma pasta do Dropbox onde reúno toda a documentação do projeto.
O próximo passo para mim é definir a estrutura da funcionalidade e conteúdo, normalmente faço wireframes utilizando Sketch. De seguida começo a pensar no design visual, cores, tipografia. Não sou grande fã de mockups de alta fidelidade, prefiro desenhar duas ou três páginas que reúnem a maior parte dos elementos gráficos e deixar o resto para a fase de programação em HTML/CSS.
Daqui para a frente depende muito do projecto, por vezes faço um pouco da implementação incluindo PHP e algum Javascript, principalmente em componentes que tenham haver com interacção com o utilizador.

Experimentas novas aplicações e serviços com regularidade ou permaneces fiel às tuas preferidas?

Constantemente, acho que é essencial para qualquer profissional na área do design/web. Sou muito curioso e como tal inscrevo-me em todos os serviços online que me passam pela frente. Gosto de analisar e perceber como foram resolvidos certos problemas e quais as novas abordagens tomadas.
No entanto, mantenho-me fiel às aplicações que utilizo normalmente, a não ser quando aparece algo revolucionário que altera positivamente o meu workflow. Um exemplo que posso dar são os gestores de tarefas: estou constantemente a experimentar novos mas há anos que utilizo o Wunderlist. Embora tenha as suas falha continua a ser o mais interessante e fiável para a forma como organizo o meu trabalho.

Trabalhas apenas com WordPress ou utilizas outros sistemas de gestão de conteúdos?

Para a gestão dos meus blogs e sites que criei no passado utilizo sempre WordPress, tanto em vertente de alojamento próprio como utilizando WordPress.com. Há uns anos atrás estive envolvido na avaliação de sistemas de conteúdos de nível “empresarial” que me levou a apaixonar ainda mais pelo WordPress devido à sua simplicidade e expansibilidade, tudo isto de forma grátis. Isto não quer dizer que não experimente e utilize outros CMSs. Há uns tempos brinquei com o Ghost e fiquei agradavelmente surpreendido.
Acho que devemos sempre procurar a melhor soluções para o problema que temos em mãos.

O que é que faz um design wrangler?

No meu caso específico sou responsável pelas decisões de design dos projectos que a minha equipa desenvolve, ou seja, sou responsável por desenhar e materializar interfaces para componentes ou projectos que afectam directamente os nossos utilizadores bem como outras ferramentas que são utilizadas apenas internamente.
Design wrangler é uma designação que muitos designers adoptam na Automattic, mesmo que o tipo de trabalho seja bastante díspar. Há quem se foque mais na experiência de utilização, outros no desenho de interfaces, temas, ‘growth engineering’ e até design para impressão.

Trabalhas para a Automattic há poucos meses. É uma empresa conhecida pelo seu método de trabalho deslocalizado. Podes contar-nos um pouco como é que as equipas funcionam?

Não existem grandes regras, excepto o bom senso e, como tal, cada equipa organiza-se da forma que acha mais conveniente. A comunicação é feita através de vários canais, tipicamente as equipas e projectos comunicam através de instalações de P2, sendo a comunicação mais directa feita através do Slack. Em ambos canais de comunicação existem espaços dedicados não só a trabalho mas também outros assuntos do dia a dia, como, por exemplo, fitness, música, jogos e existem canais completamente abertos a qualquer tópico, o vulgar espaço de ‘water cooler’ que existe nas empresas tradicionais.
Ocasionalmente as equipas reunem-se fisicamente para que possam trabalhar e conviver durante alguns dias. Uma vez por ano a empresa reune-se num local, durante uma semana, onde decorrem diversas atividades num misto entre projectos, code-camps, flash talks, e outras actividades menos sérias, como sessões épicas de karaoke ou skydiving.

Como é que foi a adaptação?

Ainda esta a ser! Mas diria que está a ser relativamente fácil. No início auto-impus-me um horário de trabalho “normal” mas depressa cheguei a conclusão que não fazia sentido. Parte da minha equipa está na Califórnia e, como tal, começam a trabalhar às minhas 5 da tarde. Fui adaptando o meu horário aos poucos e, neste momento, acho que não tenho um. Isto não quer dizer que esteja o dia todo a trabalhar, mas passa por trabalhar um pouco menos de manhã e um pouco mais à noite. Mas varia muito. Isso é uma das vantagens de trabalhar na Automattic. Em termos de localização até agora tenho trabalho essencialmente em casa, excepto algumas sessões de coworking que tenho feito com outros colegas da Automattic que estão a Lisboa e noutras ocasiões onde fui experimentando sítios públicos como bibliotecas, hotéis ou cafés.

Quando é que o design entrou na tua vida?

Embora a minha formação seja em informática, o design foi sempre algo que esteve presente na minha vida, sempre tive um perfil muito criativo. Em miúdo gostava muito de desenhar e construir estruturas estranhas com Legos. A par da minha formação em informática fui sempre alimentando o meu interesse em design lendo livros sobre o assunto e acompanhando o que ía sendo feito. Nos projetos da faculdade acabava sempre dar quase tanta importância aos interfaces como ao que estava por trás, mesmo que não fosse esse o objetivo. Profissionalmente tentei sempre orientar a minha carreira de forma a que o design seja fosse uma constante, mesmo tendo feito desenvolvimento durante algum tempo.

Tens um ‘estilo’ de design preferido ou navegas ao sabor do momento, do projecto, do objectivo?

Acho difícil ficar preso a um estilo de design especifico, principalmente na web. O meu trabalho tem-se centrado sobretudo no estudo e criação de interfaces para entidades já existentes o que significa que é um necessário seguir manuais de estilo e regras definidas. Um processo criativo não tem necessariamente que passar pela criação de marcas ou de estilos. Fico contente quando encontro uma solução que ainda ninguém tinha pensado ou, pelo menos, que eu não tenha experimentado antes.
Obviamente que gosto de saber o que vai ser feito na web e no mundo mobile e de apreciar quando alguém introduz conceitos inovadores, mas tento distanciar-me de modas que satisfazem mais quem as aplica do que quem as vai utilizar, como por exemplo técnicas de paralax ou utilização de menus off-canvas quando não são necessários.

Há uns dias ouvi David Kelley dizer que o segredo do bom design partia de uma construção por camadas, graças ao contributo de diversas pessoas e diferentes sensibilidades. Concordas?

Em parte sim, é sempre bom ter em conta vários pontos de vista. Essa perspectiva pode ser trazida por pessoas experientes e por alguém que está completamente fora do contexto. Muitas vezes focamo-nos demasiado no problema e não “saímos da caixa”, é nesta situação que os outsiders nos podem ajudar.
No entanto envolver várias pessoas num processo criativo também poder ser prejudicial, como por exemplo cair no chamado design por comité.

Como é que ‘nasce’ o design na Automattic?

Da minha curta experiência diria que nasce de todo o lado :). Todos os Automatticians, sem excepção, são encorajados a desenhar ou desenvolver projectos que achem interessantes para melhorar os produtos existentes ou até criar novas ideias. No processo de criação existe um grande foco em analisar os dados existentes de forma a tomar decisões que não sejam baseadas em tendências mas sim em conclusões fundamentadas.

Quais achas que devem ser os próximos passos do WordPress como CMS, aquilo que gostarias que tivesse e ainda não tem?

Algo que vamos ter muito em breve: a JSON REST API que vai permitir explorar o WordPress muito além daquilo que estamos habituados a ver.
É difícil dizer o que falta no WordPress tendo em conta que tudo o que não existe pode ser explorado através de plugins. Uma das evoluções que prevejo é o editor de artigos e páginas permitir ir mais além das simples edição de HTML.

Alguma sugestão a quem está agora a começar a trabalhar com WordPress?

Acho que a melhor forma é começar por desenvolver um plugin ou tema. Não há nada melhor do que por as mãos na massa :).

Perfil em The Loop é uma rubrica do WP-Portugal. Procuramos conhecer, de forma breve e descomplexada, detalhes e opiniões de pessoas que trabalham com WordPress. As entrevistas tanto podem ser em texto, como em vídeo. É como nos apetecer. A nós e ao entrevistado.

Um pensamento sobre “Entrevista a José Marques: “Apaixonei-me pelo WordPress devido à sua simplicidade e expansibilidade”

  1. Parabéns pela entrevista e pelo blog. Sigo-o atentamente. Trabalho remotamente em Portugal para a AppThemes (desenvolvimento de application themes) onde sou lead developer para o tema JobRoller e o mais recente HireBee e as semelhanças nos métodos de trabalho com a Automattic são incríveis.

    Penso que as empresas portuguesas têm muito a aprender relativamente aos métodos de trabalho e também no aspecto motivacional. Da forma como trabalho, para mim é um prazer e não uma obrigação como acontece para muitos, infelizmente.

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